Nada contra a Operação Zelotes
deflagrada pela Polícia Federal no Conselho de Administração de Recursos
Fiscais – CARF, mas me parece que a equidade de direitos das partes será prejudicada no futuro. Quero dizer que os julgadores, a partir de agora, repensarão
duas, três ou quatro vezes sobre a matéria antes de votar a favor do
contribuinte. Qualquer voto contra o Fisco poderá ser alvo de suspeita, indício
talvez de uma suposta fraude.
Até mesmo um mero pedido de vista
do processo antes de votar, procedimento até então comum e corriqueiro, pois
nem sempre o julgador se sente seguro em dar o seu voto de imediato, sem antes
analisar com maior profundidade o caso, poderá ser visto como armação de uma
negociata.
E nem adianta a boa intenção de
apartar o joio do trigo. Haverá sempre desconfiança. Como dizem, não basta dizer
que é honesto, é preciso provar, e ninguém está acima de qualquer suspeita.
Todos são suspeitos até prova em contrário, mas como provar quando a decisão for
fruto de uma interpretação pessoal, que é a essência de um julgamento?
Vai daí que um julgador para
votar a favor do contribuinte será agora obrigado a tecer laudas e laudas que
possam dar sustento a sua interpretação. A dizer, então, que o voto a favor do
Fisco independe de grandes esforços mentais e intelectuais que permitam corroborar
a sua posição. Contudo, o voto contra vai exigir vastíssima sustentação, longo
tempo de preparo e de pesquisa doutrinária.
A lide não será mais justa.
E esse problema não estará
restrito ao CARF. Em todas as instâncias administrativas julgadoras, inclusive
municipais, a Operação Zelotes irradiará efeitos. Os membros das Juntas de
Recursos Fiscais ou dos Conselhos de Contribuintes estarão temerosos de votar
contra o Fisco e somente o farão se houver provas cristalinas, inequívocas,
indiscutíveis a favor do contribuinte. Ou seja, prevalecerá o “in dúbio, pro fisco”.
Deste modo, sucumbe o princípio
da igualdade no contencioso administrativo. O Fisco já começa a disputa com
vantagem no “goal average”. Julgadores
mais medrosos, ou mais tementes às críticas e suspeitas vão preferir o voto
mais simpático e isento de comentários maliciosos.