sábado, 14 de fevereiro de 2015

Como pedir demissão de uma empresa

O Jornal Valor, de 13/02/2015, publicou interessante matéria sobre formas inusitadas de pedir demissão, tendo por base uma pesquisa de uma tal Office Team. Aliás, americano adora pesquisa. Outro dia, li a respeito de uma pesquisa sobre a quantidade cúbica de “gases expelidos” pelos bovinos, uma das causas dos buracos na camada de ozônio, valha-me São Joaquim do Fermento! Até peido de vaca é agente poluente.

Já dizia Santo Inácio de Loyola (ou foi Santo Agostinho?) que pedir demissão do emprego exige educação e habilidade. Motivo? Deixar a porta da empresa aberta. Bem, deixar a porta aberta, por quê? Se o motivo for um possível retorno no futuro, então ainda estou indeciso, e se estou indeciso o melhor é não pedir demissão. Não! O motivo é outro, é de não macular o meu currículo! Mas, pedir demissão macula currículo? Enfim, tudo baboseira empresarial.

A verdade é que esse pessoal de recursos humanos só pensa na empresa, nunca no empregado. Eles não gostam de empregados que pedem demissão, parece uma traição aos olhos deles. Uma apunhalada nas costas da querida empresa. Eles gostam mesmo é de demitir, prova de que estão sempre atentos aos custos e na otimização do quadro funcional. Adoram a palavra faxina, e adoram demitir faxineira. Esse pessoal de recursos humanos é, na verdade, uma turma de puxa-sacos dos patrões. Há exceções? Claro que existem exceções, todos já demitidos.  

Por isso, estabelecem regrinhas tolas e fúteis para empregados que querem pedir demissão. Fazer uma carta gentil, sempre elogiosa à empresa e aos seus diretores, conversar com o chefe e dizer que lamenta muito ser obrigado a deixar a empresa, sempre tão boazinha com os seus ‘colaboradores’, está disposto a treinar um substituto, mas, enfim, recebeu um convite desafiador e ele, empregado, sempre gostou de encarar desafios, e assim por diante.

Qualquer pedido de demissão fora dessas regras é considerado equivocado e inusitado.

Vai daí que a tal empresa considerou inusitadas algumas formas de demissão verificadas na pesquisa. Pois até gostei de algumas delas. Por exemplo:

1) Um trabalhador atirou um tijolo pela janela com as palavras ‘Eu me demito’.
Muito boa, mas verifique primeiro se a janela está aberta. Caso contrário, você terá de pagar o vidro quebrado. E cuidado para não atingir a cabeça do diretor.

2) A pessoa foi ao banheiro e nunca mais voltou.
Bem, aí depende da localização do banheiro. Têm empresas com tão poucos banheiros e tão distantes que o empregado acaba se borrando nas calças no caminho. Tem que ir pra casa mesmo.

3) O empregado empacotou suas coisas e saiu sem dizer uma palavra.
Ora, este é o melhor método de demissão para pessoas tímidas ou mudas.

4) A funcionária disse que estava saindo para comprar botas novas e nunca mais foi vista.
É lógico! Ela pode ter comprado as botas de sete léguas, ou, então, ao comparar o preço das botas com o seu salário simplesmente desistiu de trabalhar.

5) Um empregado abandonou uma reunião sem dar explicações.
Com toda razão! Essas empresas têm mania de fazer reunião para qualquer coisa. E os empregados só ouvem abobrinhas, um monte de besteiras. Ser obrigado a ficar ali, sentado, ouvindo os bobalhões, tenha paciência!

5) Ele simplesmente se levantou e disse: ‘Eu me demito’.

Esta é a melhor de todas. Gritar aos quatro ventos que se demite, largar tudo e nunca mais voltar, eta coisa boa! É aquele momento do impulso, do auge da indignação, da gota d’água transbordante. Sair de peito estufado e cabeça erguida, com os olhos voltados para o alto, seguir a passo firme em direção da porta da rua, a porta da liberdade. Que momento empolgante! Isso já aconteceu comigo, um momento inesquecível, de dignidade absoluta. Só depois, ao chegar em casa, pude avaliar as consequências do meu ato.

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