O Jornal Valor, de
13/02/2015, publicou interessante matéria sobre formas inusitadas de pedir
demissão, tendo por base uma pesquisa de uma tal Office Team. Aliás, americano
adora pesquisa. Outro dia, li a respeito de uma pesquisa sobre a quantidade
cúbica de “gases expelidos” pelos bovinos, uma das causas dos buracos na camada
de ozônio, valha-me São Joaquim do Fermento! Até peido de vaca é agente
poluente.
Já dizia Santo Inácio de
Loyola (ou foi Santo Agostinho?) que pedir demissão do emprego exige educação e
habilidade. Motivo? Deixar a porta da empresa aberta. Bem, deixar a porta
aberta, por quê? Se o motivo for um possível retorno no futuro, então ainda
estou indeciso, e se estou indeciso o melhor é não pedir demissão. Não! O
motivo é outro, é de não macular o meu currículo! Mas, pedir demissão macula
currículo? Enfim, tudo baboseira empresarial.
A verdade é que esse pessoal
de recursos humanos só pensa na empresa, nunca no empregado. Eles não gostam de
empregados que pedem demissão, parece uma traição aos olhos deles. Uma apunhalada
nas costas da querida empresa. Eles gostam mesmo é de demitir, prova de que
estão sempre atentos aos custos e na otimização do quadro funcional. Adoram a
palavra faxina, e adoram demitir faxineira. Esse pessoal de recursos humanos é,
na verdade, uma turma de puxa-sacos dos patrões. Há exceções? Claro que existem
exceções, todos já demitidos.
Por isso, estabelecem
regrinhas tolas e fúteis para empregados que querem pedir demissão. Fazer uma
carta gentil, sempre elogiosa à empresa e aos seus diretores, conversar com o
chefe e dizer que lamenta muito ser obrigado a deixar a empresa, sempre tão
boazinha com os seus ‘colaboradores’, está disposto a treinar um substituto,
mas, enfim, recebeu um convite desafiador e ele, empregado, sempre gostou de
encarar desafios, e assim por diante.
Qualquer pedido de demissão
fora dessas regras é considerado equivocado e inusitado.
Vai daí que a tal empresa
considerou inusitadas algumas formas de demissão verificadas na pesquisa. Pois
até gostei de algumas delas. Por exemplo:
1) Um trabalhador atirou um
tijolo pela janela com as palavras ‘Eu me demito’.
Muito boa, mas verifique
primeiro se a janela está aberta. Caso contrário, você terá de pagar o vidro
quebrado. E cuidado para não atingir a cabeça do diretor.
2) A pessoa foi ao banheiro
e nunca mais voltou.
Bem, aí depende da
localização do banheiro. Têm empresas com tão poucos banheiros e tão distantes
que o empregado acaba se borrando nas calças no caminho. Tem que ir pra casa
mesmo.
3) O empregado empacotou
suas coisas e saiu sem dizer uma palavra.
Ora, este é o melhor método
de demissão para pessoas tímidas ou mudas.
4) A funcionária disse que
estava saindo para comprar botas novas e nunca mais foi vista.
É lógico! Ela pode ter
comprado as botas de sete léguas, ou, então, ao comparar o preço das botas com
o seu salário simplesmente desistiu de trabalhar.
5) Um empregado abandonou
uma reunião sem dar explicações.
Com toda razão! Essas
empresas têm mania de fazer reunião para qualquer coisa. E os empregados só ouvem
abobrinhas, um monte de besteiras. Ser obrigado a ficar ali, sentado, ouvindo
os bobalhões, tenha paciência!
5) Ele simplesmente se
levantou e disse: ‘Eu me demito’.
Esta é a melhor de todas.
Gritar aos quatro ventos que se demite, largar tudo e nunca mais voltar, eta
coisa boa! É aquele momento do impulso, do auge da indignação, da gota d’água
transbordante. Sair de peito estufado e cabeça erguida, com os olhos voltados
para o alto, seguir a passo firme em direção da porta da rua, a porta da
liberdade. Que momento empolgante! Isso já aconteceu comigo, um momento
inesquecível, de dignidade absoluta. Só depois, ao chegar em casa, pude avaliar as consequências do meu ato.
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