quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

A morte anunciada do combustível fóssil

Em junho de 2014 o preço de mercado do barril de petróleo era de U$115. Diante de preço tão elevado, países como o Canadá e os Estados Unidos investiram na exploração do óleo contido nas reservas de xisto, cujo custo médio de U$85 compensava o investimento. Com isso, os Estados Unidos, entre outros, reduziram substancialmente suas importações de petróleo, o que provocou um sinal de alerta nos países produtores, principalmente os árabes. Afinal, uma queda de compra do maior consumidor de petróleo do planeta representa uma perda imensa aos seus fornecedores.

Adotou-se, então, a estratégia de reduzir preço e de junho de 2014 a janeiro de 2015 o preço do barril caiu a valores abaixo de U$50. A nova realidade fez com que algumas empresas poderosas que exploravam reservas de xisto paralisassem a exploração: mais lucrativo comprar o petróleo do que extraí-lo. E o mesmo se dá com as reservas do pré-sal, cujo custo de exploração no Brasil gira em torno de U$80, com gente falando de até U$100.

Quando?
A verdade, porém, verdade que a maioria esconde, é que a exploração de combustível fóssil está com os seus dias (ou anos) contados. Vários países, como a Alemanha, já se movimentam neste sentido, deslocando grandes parcelas de investimentos para fontes de energia alternativas, como a solar, a eólica e a elétrica. Até mesmo alguns ricos países árabes investem fortemente na captação de energia solar, apesar de suas enormes reservas de petróleo. Eles sabem que até agora só estiveram queimando suas riquezas que não são inesgotáveis. Segundo informação de um jornal algumas cidades alemãs somente liberam a certidão de habite-se quando a nova edificação implantou o sistema de energia solar. Eis uma boa ideia para grandes cidades brasileiras: construções novas superiores, por exemplo, a 1.000 metros quadrados de área construída seria liberada somente com instalações de captação de energia solar. Tal medida ajudaria também a combater a nossa propalada crise energética.

Outro aspecto relevante é que grandes instituições financeiras estão reduzindo drasticamente o volume de seus investimentos no setor de combustível fóssil. Em suas análises de risco projetam este setor ao nível de perigoso ou ‘não recomendável’ a longo prazo, e cabe lembrar que esses investimentos são sempre de longo prazo. Em 2014, um valor superior a U$50 bilhões, destinado à exploração e refino de petróleo, foi deslocado para outros setores. Aliás, este é mais um problema da Petrobrás: as generosas ofertas de financiamento de investidores estão escasseando, a dizer que os limites de crédito já atingiram o patamar de risco aceitável, ou, então, é preciso reduzir o limite para mantê-lo seguro. Não é difícil concluir que o pré-sal está seriamente ameaçado de estagnar por falta de recursos e de interesse econômico, a não ser que a obstinação beócia de certas lideranças políticas continue a exigir o “tudo ou nada”.

Bem, como se vê, a disputa de mercado se confunde com uma mudança radical da vida humana. A OPEP disputa mercado com o xisto, reduzindo o preço de sua mercadoria para arruinar a concorrência, mas a grande questão é outra: a festa do combustível fóssil já está na quarta-feira de cinzas. Está na hora da Petrobrás rever os seus projetos de longo prazo e partir para outras fontes de energia. E lamber suas feridas, a maioria provocada por seus algozes que lá se aquartelaram. 

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