
Ou seja, os empregados podiam
sentar na privada e enquanto resolvessem suas necessidades líquidas e materiais
poderiam muito bem comer um sanduíche, telefonar pra família e conversar
animadamente com os colegas. Bastaria deixar a porta aberta. Os tribunais
regionais concordaram plenamente, ora, você pode fazer tudo ao mesmo tempo, sim
senhora! Defecar, urinar, comer uma quentinha, escovar os dentes, conversar,
cantar, tudo ao mesmo tempo é perfeitamente normal. Uma coisa não prejudica a outra. Basta não
fechar a porta. Pode até espalhar umas cadeiras ao lado do vaso sanitário para que os visitantes se sintam mais confortáveis.
Mas, a Ministra Maria Assis
Calsing discordou. Disse ela que a restrição violava a privacidade da moça e
ofendia a sua dignidade, expondo-a a constrangimento desnecessário e descabido.
Os demais Ministros concordaram e lascaram a multa ao empregador.
Nós, que somos usuários de
telemarketing, muitas vezes saímos do sério com as telefonistas, chegando ao
ponto de ofendê-las. Precisamos, porém, entender que não estamos falando com o
verdadeiro responsável pelas mazelas que nos são impostas. Quem comete os erros
ou tenta nos enganar não tem coragem de atender ao telefone. Essa incumbência
corre por conta de um pessoal esgotado, cansado, faminto e doido pra fazer
xixi. Não é raro atendente usar fralda geriátrica.
O atendente só pode trabalhar com
a roupa do corpo e uma garrafinha de água. É proibido ter bolsa, celular e
qualquer pacotinho nas mãos. Tem um fiscal que fica percorrendo as cabines,
vigiando e dando ordens. As conversas são gravadas, não para defesa dos
consumidores, mas para verificar se os atendentes estão cumprindo as regras.
Neste ambiente de terror, o atendente ainda é obrigado a manter o tal “sorriso
na voz”, expressar uma simpatia. Quem comete um erro pode entrar na lista de
corte, uma black list, que antecede
uma advertência, uma suspensão, até chegar à demissão por justa causa.
