Um jovem de semblante tenso abre
a porta do gabinete federal e põe a cabeça para dentro da sala.
- Diretor Vitalício! Posso ter
uma conversa particular com o senhor?
- É claro, Raimundinho! Entra e
feche a porta.
Raimundinho entra e desaba na
poltrona em frente da mesa do Diretor. Passa a mão no rosto e começa:
- Diretor Vitalício, eu estou
muito preocupado, não consigo nem dormir direito.
- O que está acontecendo?
- É esta situação das eleições! O
nosso partido está correndo o risco de perder!
O Diretor Vitalício esboça um
sorriso.
- Perder faz parte do jogo,
Raimundinho. Esse é o lado perverso do regime democrático.
Raimundinho balança nervosamente
a cabeça.
- Mas se o nosso partido perder
todos nós seremos exonerados!
- É possível, a não ser que se
consiga um pistolão no partido vencedor.
- Mas quem, Diretor? Ninguém
conhece essa candidata!
O Diretor Vitalício coça o queixo
desconfiado.
- Você já andou tentando?
Raimundinho apruma o corpo e se
aproxima da mesa.
- Diretor, eu nunca fui traíra, o
senhor sabe, mas a gente tem que se precaver.
- O que você fez?
- Bem, andei fazendo alguns
contatos. Na primeira situação estava mais fácil, conversei com políticos do
outro partido, recebi algumas promessas, se desse zebra o meu cargo já estava
garantido... Bom, mais ou menos garantido.
- Raimundinho, nunca confie nas
promessas dos políticos...
- Eu sei! Mas quebrei uns galhos
para certos adversários...
- Tudo bem! Não precisa me dizer
como conseguiu as promessas.
- Certo! Mas agora não consigo
encontrar ninguém!
- Você tentou com políticos do
Acre?
- Tentei! São todos contra a
candidata!
- E em Pernambuco?
- Ninguém gosta dela! Os
políticos de lá dizem que ainda estão digerindo a candidata! O senhor não se
preocupa com isso?
O Diretor encostou-se na poltrona
e deu um suspiro.
- Meu caro, estou aqui há doze
anos, já sou aposentado, tenho uma poupança, já passei dos setenta, estou
conformado, está na hora de pendurar as chuteiras.
- Mas não é o meu caso! Este
cargo foi o meu primeiro emprego, também estou aqui há doze anos, que emprego
vou conseguir?
- Ora, neste tempo todo você deve
ter aprendido alguma coisa...
- O quê? A única coisa que faço é
despachar processo. Não conheço nenhuma profissão de despachador de processo.
- Já falou com o seu pai? Ele não
é deputado?
Raimundinho abanou a mão num
gesto de desalento.
- Ele já foi deputado! Perdeu as
duas últimas... Mas, o senhor sabe como é, vive passeando nos corredores da
Câmara como se ainda tivesse algum poder.
O Diretor assentiu meneando a cabeça.
- É verdade... Não existe
ex-deputado.
- Por favor, Diretor! Me ajude!
Com quem eu devo conversar?
O Diretor deu outro suspiro de
cansaço.
- Não sei realmente. Essa moça
surgiu como um furacão, alterando todo o cenário. Antes dela a coisa não estava
tão má, meio preocupante, é verdade, mas com boas perspectivas. Além disso, os
políticos adversários eram todos conhecidos da gente. Dava para conversar e
acertar alguns ponteiros.
- E agora, Diretor?
- Acho que agora é hora de rezar,
pagar as penitências e preparar um bom currículo.
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