Anos e anos atrás, quando resolvi ministrar cursos de capacitação profissional, fui fazer mestrado em Docência Superior para aprender os rudimentos técnicos da arte de falar em público. Algumas matérias em nada ajudaram; outras foram importantíssimas, talvez mais em função dos professores do que pelo programa de cada uma. Enfim, não me considero especialista, muito longe disso, mas aprendi alguma coisa no passar dos anos e graças ao mestrado realizado.
Os americanos costumam contar uma piadinha ao iniciar suas palestras e, por isso, vários palestrantes brasileiros adotaram essa prática como se fosse um dogma obrigatório. Outro dia, li no jornal que o ex-presidente Lula usa a mesma piadinha em todas as palestras: pede água e diz ao público que quando era presidente não precisava pedir, um monte de gente já estava de prontidão para servi-lo. Ah-Ah-Ah! Muito boa, mas repetir a mesma piada cansa. É preciso mudar o repertório. De piadinha repetida, só os puxa-sacos caem na gargalhada.
Outro aspecto importante: conhecer a matéria não significa, por si só, saber comunicar-se. Outro dia, ouvi palestra de um técnico respeitado, porém, o coitado tinha um terrível vício de linguagem: repetia insistentemente a expressão “entendeu?”. Era assim: “Estou aqui (entendeu?) para falar sobre o IPTU (entendeu?)... Conceitos e jurisprudência (entendeu?)...”. Deus do Céu! Ninguém aguentava mais aquele “entendeu, entendeu, entendeu”. E o ouvinte fica prestando atenção no “entendeu” e acaba não entendendo nada.
Teve outro que repetia “então”. Era “então” pra cá, “então” pra lá, não havia frase sem começar com o tal “então”. “Então... Como eu estava dizendo...”. Um saco! Os psicólogos dizem que o uso do “entendeu?” demonstra insegurança, e o “então” serve para dar tempo de raciocinar. Aos ouvintes, porém, uma grande chatice.
Outro defeito horroroso é o palestrante ficar lendo os slides que apresenta. Ora, se é para ficar lendo, distribua os slides para leitura e ninguém vai perder tempo de assistir a palestra declamada. Os slides servem como roteiro do palestrante, tais quais as fichinhas de antigamente, e não para leitura contínua.
Outro erro é o palestrante “poste”. Fica parado, estático, na frente do público, não dá um passinho sequer. Parece uma estátua, e ninguém consegue olhar uma estátua por mais de cinco minutos. Nem a Vênus de Milo.
Mais um problema de palestra é o som. Às vezes, a culpa não é do palestrante, é da aparelhagem de som. De acordo com a posição de quem fala, o som dá uns chiados angustiantes. ZIMMMM – BROMMM – BRUMMM. O palestrante esperto deve evitar certos lugares no palco, que desgostam e provocam veementes protestos do equipamento.
Todavia, há situações em que a culpada é a voz do palestrante. Tem aquele que fala para dentro, como estivesse confabulando com Deus, conversa íntima que os outros não podem ouvir. Todo mundo se agonia, espichando o pescoço numa tentativa inútil de participar da conversa. Já têm outros com vocação de tenor de ópera: falam em tom moderado e, de repente, dá um grito, um verdadeiro dó sustenido de arrancar os tímpanos. Um ilustre e brilhante jurista tem essa mania: tece os seus comentários mansamente, em tom suave de ninar criancinha e, repentinamente, solta um grito que acorda até defunto. Fui com um amigo assistir a palestra desse famoso jurista e, durante a cantilena suave, este amigo dormia profundamente, ronronando ao meu lado. De súbito, o palestrante fez valer a sua fama e soltou um poderoso dó sustenido de peito, fazendo o meu amigo acordar de um pulo e aplaudir entusiasticamente, para surpresa de todos. Pensou que era o gran finalle do concerto.
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