quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

E agora, Joseph?

Sabe-se que a paixão é inimiga da razão e o fanatismo é irmão gêmeo da demência. Este artigo é dirigido aos que conseguem afastar a paixão e raciocinar livremente, mas totalmente impróprio aos fanáticos.

A renúncia do Papa Bento XVI é um dos atos mais corajosos já vistos na humanidade. Sem meios de lutar contra o poder obscuro que avassala o Vaticano e, pior, não tendo condições de tornar público a devassidão interna sem a terrível consequência de arrastar a Igreja num caminho de lama, prefere a opção de retirar-se. Sua estratégia é fazer com que a renúncia abra os olhos daqueles que ainda não perceberam o jogo de interesses escusos que ocorre nos porões do Vaticano. Por incrível que pareça, muitos cardeais desconhecem a origem da podridão que os cerca, acreditando que a Basílica de São Pedro está imune às tentações humanas e diabólicas.

Em 2009, o Papa Bento XVI nomeou o renomado financista Ettore Tedeschi, do Banco Santander e ligado à poderosa Opus Dei, para assumir o Banco Vaticano e as finanças da Igreja. A intenção era de varrer as sujeiras, o roubo e a corrupção, e colocar em ordem a estrutura financeira da Santa Sé. Tedeschi, porém, bateu de frente contra portentosa oposição, muito mais forte do que supunha o Papa. O crime estava enraizado de tal forma que a única maneira de destruí-lo seria derrubar tudo e dar início a uma total reconstrução. Comenta-se que o Secretário de Estado, Tarcísio Bertone, liderava a quadrilha e tudo fez para que Tedeschi sucumbisse com os seus planos de moralização.

Em 1912, os altos membros da quadrilha aproveitaram-se do escândalo da venda de documentos sigilosos, crime praticado pelo energúmeno Paolo Gabriele, mordomo do Papa, para envolver Ettore Tedeschi, como se este tinha alguma coisa a ver com o ladrãozinho Gabriele. O Papa foi obrigado a destituir o seu amigo, e homem de confiança, do cargo de presidente do Banco Vaticano. Todavia, antes de sair, Tedeschi entregou ao Papa um relatório fulminante, no qual relatava e provava todas as mazelas encontradas. Tudo aquilo que Bento XVI já desconfiava estava ali provado e documentado.

“E agora, Joseph?”, foi a pergunta que ele fez a si mesmo. Denunciar? Expulsar os vendilhões do templo? Mandar prender a escória? E as consequências? O escândalo poderia abalar a própria estrutura da Igreja Católica e muito tempo levaria para soerguer-se fundada em suas cinzas. Impossível imaginar o grande sofrimento do Papa durante este período, apoiando suas reflexões em prolongadas orações ao Senhor, implorando Sua Luz e discernimento.

Decidir pela renúncia foi um ato de bravura e inteligência. Ele cai, mas com ele caem os demais. Numa enxurrada, vai-se o Secretário Bertone, e mais os seus asseclas, assim espera e anseia o Papa. Nenhum cardeal pode agora dizer-se ignorante aos fatos, o Papa fez questão de denunciar os crimes existentes, a hipocrisia reinante, a luta interna pelo poder. Tudo agora vai depender da escolha do novo Papa.    

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