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Deus se estende sobre o universo e observa um pequeno planeta localizado nos confins da via láctea. “Por que tanta maldade contra os meus profetas?”, pensa Javé. “Eu os criei assim”, conclui Alá. “Foi-lhes dado o poder do discernimento e liberdade de agir, não foi assim que Eu os criei?”. “Lembra o que fizeram com João Batista?”, diz Adonai. “E os sofrimentos impostos à Moshé?”, comenta Alá. “E agora essas infâmias contra o meu profeta Maomé”, pensa Deus, pesaroso e triste.
“Demoram muito a aprender”, lamenta Javé. “Talvez Eu tenha superestimado a inteligência deles”. Ao dizer isso, Deus recorda o passado: “Eu sabia que o processo seria longo e penoso... Lembro-Me de Zoroastro e o nome que ele Me deu, Ahura-Mazda, Senhor da Sabedoria, gostei deste nome, mas o bom homem pregava a existência de outros deuses, subalternos a Mim... Ora, o honesto Zoroastro...”, conclui sorrindo. “Alguns enganos foram cometidos, mas era a sedimentação de novos fundamentos, sempre os deixei livres em suas crenças, e quantas vezes à verdade juntaram superstições e tolices”, completou Alá. “Sem dúvida, a humanidade evoluiu, graças ao lento processo da descoberta, mas até o presente, quanta estupidez cometida”, pensou Javé. “Talvez tivesse sido interessante assistir um encontro de Jesus com Maomé, uma conversa de sábios, em meio à ignorância reinante!”. “E tão pouco tempo os separaram”, refletiu Deus. “Para Mim, era nada, para os homens apenas meio século do tempo deles”.
“Gosto também dos índios”, disse Tupã. “Mas estão cada vez mais civilizados, coitados... Confundiam-Me com os relâmpagos e trovoadas”, Tupã deu uma gargalhada. “Um tanto parecidos com a civilização antiga da Grécia, quando Me chamavam de Zeus e temiam a Minha ira”. Deus ria a valer. Depois, o riso cessou e pensou acabrunhado: “Eles têm medo de Mim em vez de Me amar, e quanta maldade praticam em Meu Nome”.
“Tive bons homens”, pensou Deus. “Um deles foi Sidarta Gautama, a quem chamam de Buda. Não foi Meu profeta, mas isso não importa. A sua procura pela verdade sempre me agradou”. “Não fiz um mundo para sofrimento”, diz Javé, “embora os homens tenham escolhido este caminho”. “Dei-lhes um planeta rico e fértil, mas não deixei de criar algumas dificuldades, ocasionais ou permanentes, para evitar o mal da negligência e a nefasta indolência. Dei-lhes um mundo estimulante, que os mantivessem pesquisadores, sempre a perquirir e buscar inovações”, disse Alá. “Se Eu lhes desse um mundo perfeito, seriam eles os imperfeitos em um reino de ociosidades”, concluiu Deus.
“E aquele homenzinho, que inteligência!!”, exclamou Deus sorrindo. “Falo de Confúcio e de suas ideias sobre a moral e o bem”, continuou Alá. “Talvez tivesse sido um bom profeta, se Eu assim o designasse”, pensou Javé.
Alá estendeu suas vistas para outro lado do universo, fora da via láctea. Avistou um planeta azul com três luas. “Eis ali um lugar propício a uma nova experiência, de criar uma raça destinada a receber as Minhas dádivas. Vou dar vida a uma nova humanidade, mas agora farei as coisas de maneira diferente”, concluiu Deus.
E foi assim que os homens do planeta Terra foram abandonados à própria sorte.
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