sábado, 27 de maio de 2017

O rabo

No início, foi uma surpresa! Nascia-lhe um rabo a partir da ponta da coluna, a romper a pele e descer entre as pernas. O rabo nasceu logo depois do acerto de um negócio, diga-se, negócio não lá muito correto. Ser portador de um rabo era algo constrangedor, sentia-se envergonhado, embora ninguém soubesse da sua existência, exceto os poucos que o viam a descoberto ou com o rabo de fora. Depois, com o tempo, acostumou-se! Ora, que se dane o rabo! Disfarçava-o com o uso de calças largas e aprendera a maneira de andar e sentar-se com aquela cauda peluda encolhida ou estendida na perna.

A existência do rabo não prejudicava o exercício da sua profissão. Pelo contrário, depois do surgimento do rabo sua carreira progrediu de forma tal que ele próprio se surpreendia. Como é normal dos homens, granjeava à própria inteligência o sucesso de sua carreira, mas não descartava o fato de que aquele rabo fora um verdadeiro rabo-de-coelho saído da cartola.

De Vereador a Deputado, de Prefeito a Governador, sua ascensão foi meteórica. Justiça seja feita, nunca o pegaram com o rabo preso. Escapulia dos problemas com inteligência e maestria, e tinha um jeitinho todo próprio para sair de uma briga ou evitar um arranca-rabo.

Verdade também que ele era um demagogo de mão cheia. Ninguém o via sair de uma discussão com o rabo entre as pernas (o que literalmente acontecia!), e tinha tanta sorte que o comentário geral era que ele nascera com o rabo para a Lua.

E agora na ponta da pirâmide do poder, ele é convidado a participar de uma festinha particular, no porão do castelo, com a participação dos magnatas empresariais e das felpudas raposas da política. Apreciador como era de um rabo-de-saia, e sabendo que naquelas festinhas sempre rolava bons negócios, lá foi ele disposto a tudo.

E durante a festa, na verdade um tremendo bacanal, todos foram tirando a roupa e ele sem jeito, a não querer mostrar aos presentes a prova material da existência do rabo. Foi então que percebeu, para a sua surpresa, que todos os magnatas e poderosos políticos também portavam vistosos rabos, alguns compridos, outros curtos, alguns peludos, outros despelados, rabos discretos, indiscretos, mas todos de rabo à mostra e sem nenhuma vergonha. 

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