No início, foi uma surpresa!
Nascia-lhe um rabo a partir da ponta da coluna, a romper a pele e descer entre
as pernas. O rabo nasceu logo depois do acerto de um negócio, diga-se, negócio não
lá muito correto. Ser portador de um rabo era algo constrangedor, sentia-se
envergonhado, embora ninguém soubesse da sua existência, exceto os poucos que o
viam a descoberto ou com o rabo de fora. Depois, com o tempo, acostumou-se! Ora,
que se dane o rabo! Disfarçava-o com o uso de calças largas e aprendera a
maneira de andar e sentar-se com aquela cauda peluda encolhida ou estendida na
perna.
A existência do rabo não
prejudicava o exercício da sua profissão. Pelo contrário, depois do surgimento
do rabo sua carreira progrediu de forma tal que ele próprio se surpreendia.
Como é normal dos homens, granjeava à própria inteligência o sucesso de sua carreira,
mas não descartava o fato de que aquele rabo fora um verdadeiro rabo-de-coelho saído
da cartola.
De Vereador a Deputado, de Prefeito
a Governador, sua ascensão foi meteórica. Justiça seja feita, nunca o pegaram
com o rabo preso. Escapulia dos problemas com inteligência e maestria, e tinha
um jeitinho todo próprio para sair de uma briga ou evitar um arranca-rabo.
Verdade também que ele era um
demagogo de mão cheia. Ninguém o via sair de uma discussão com o rabo entre as
pernas (o que literalmente acontecia!), e tinha tanta sorte que o comentário
geral era que ele nascera com o rabo para a Lua.
E agora na ponta da pirâmide do
poder, ele é convidado a participar de uma festinha particular, no porão do
castelo, com a participação dos magnatas empresariais e das felpudas raposas da
política. Apreciador como era de um rabo-de-saia, e sabendo que naquelas
festinhas sempre rolava bons negócios, lá foi ele disposto a tudo.
E durante a festa, na verdade um
tremendo bacanal, todos foram tirando a roupa e ele sem jeito, a não querer
mostrar aos presentes a prova material da existência do rabo. Foi então que
percebeu, para a sua surpresa, que todos os magnatas e poderosos políticos
também portavam vistosos rabos, alguns compridos, outros curtos, alguns
peludos, outros despelados, rabos discretos, indiscretos, mas todos de rabo à
mostra e sem nenhuma vergonha.
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