Deserdado da
coragem, daquela vontade quase natural de viver, o jovem Brasil pôs-se a morrer
lentamente nas mãos de seus tutores.
Já não lhe
dizia respeito aquelas discussões ásperas entre os querelantes de sua custódia.
Fechava os olhos, como em sonolência furtiva, e deixava-se levar em sonhos e
imagens de distantes paragens.
Brasil era
presente, mas ausente, tão cansado estava da sofreguidão e dos propósitos
mesquinhos dos candidatos a gerir suas riquezas. Nem tentava mais fingir
interesse na pauta das discussões. Passava ao largo.
Lembrava-se de
outros tempos, tão pequenino, a dispor de um imperador, criança como ele, com
regentes na administração de seus bens. Já na época, a vida não era fácil, com
as tentativas de lhe arrancarem pedaços, mutilarem seu corpo, cortarem seus pés
no sul e deceparem sua cabeça ao norte. Mas, havia um imperador e seus
regentes, com suas ambições próprias, é verdade, porém, ainda cuidavam do seu
patrimônio.
E agora, um cansaço
enorme, como se estivesse mantendo por longo tempo em seus braços o peso de milhões
de habitantes. Sentia o desânimo de quem perde todas as batalhas. Dava-lhe
vontade de arriar os braços e deixar cair todo aquele peso às profundezas do
infortúnio.
Afinal,
ninguém lhe prestava atenção. As conversas giravam em torno das vilanias dos
tutores, os que proclamavam seus direitos de gestão. Por certo, a grandeza de
seus bens ainda merecia desejos cobiçosos, muito ainda a saquear. Deste modo,
na pauta dos debates, deixá-lo crescer forte e em condições de dar sustento à
sua enorme família, eram questões subjetivas, de segundo plano.
O jovem Brasil
sentia-se abandonado. Os seus verdadeiros interesses esquecidos por todos. À
sua volta, pretensos tutores disputavam a sua posse, o domínio de seus bens, a
forma de subjugá-lo. E aqueles que poderiam apoia-lo, a povoar as ruas, a dar o
grito de alerta, estão, assim como ele, deserdados da coragem, e, já
desanimados, desistiram e reprimiram os seus brados de revolta.
E o jovem
Brasil pôs-se a morrer.