As discussões acaloradas no Congresso
sobre a notificação de indiciado supostamente falecido no escândalo da brasilrroubalheira,
alvo de CPI febrilmente atuante e de discursos veementes, foram devidamente alardeadas
aos quatro ventos com repercussão geral.
“O morto não morreu!”, grita esfuziante o deputado
Janoclécio do Tinguá, sob fortes apartes, desapartes, abraços e bordoadas do
plenário convulsivo.
Em meio à ebulição vulcânica
dos atritos, a Deputada Ricardinha do Ricardão promove o lançamento de sua PLC –
projeto de lei complementar, cujo primeiro artigo estabelece: “Fica vedado
expressamente o falecimento de pessoa física indiciada em procedimento criminal
de corrupção, peculato, extorsão e simulação de qualquer natureza”. O parágrafo único sentencia: "Somente será permitido o falecimento após ocorrido o trânsito em julgado da ação criminal". O apoio ao
projeto ressoa no recinto e um congressista mais arrojado inicia o canto do
hino nacional, mas pouco acompanhado, porque a maioria não sabia a letra e não
havia playback.
O Deputado Pai Santo do
Viamão resolve fazer mesa e atrair a alma do suposto falecido para que este
preste depoimento. Vários deputados, em volta da mesa do Presidente da Comissão,
dão às mãos e sussurram suas orações conclamatórias, já diante de velas acesas por um
eficiente auxiliar de gabinete. Ao fundo, são ouvidos os acordes da Dança
Macabra de Saint-Saëns. A mesa treme, as garrafas de água se mexem, os copos tombam, as velas se apagam sob o efeito de um vento fúnebre. E o Deputado Pai Santo do Viamão
se gesticula, contorce-se, assume outra postura e fala em voz ressoante: “Quem ousa me tirar do sono
eterno?”.
O Congresso se cala, o vento gélido se espalha, os presentes tremem de frio e pavor. O Presidente da
Comissão toma coragem e responde claudicante: “Queremos saber se o senhor
recebeu propina dos empreiteiros”.
A alma incorporada no Pai Santo do Viamão dá
uma gargalhada fantasmagórica e responde: “Que palhaçada é essa? Muitos de
vocês estavam lá e sabem que recebi propina, como todos receberam!”.
Um murmúrio de desaprovação.
O Deputado Janoclécio do Tinguá, primeiro mandato e ainda aprendiz do ofício,
gritou: “Diz os nomes de todos que se locupletaram!”.
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