É preciso acabar de
vez com a antiga história de que servidor público não é um profissional, para
encerrarmos o nefasto círculo vicioso que conjuga o deficiente serviço público
com o minguado salário que o servidor recebe. É assim: servidor público presta serviço
ruim porque recebe salário ínfimo; servidores ganham salários ínfimos e, por
isso, prestam serviços ruins.
Um engenheiro
servidor público, por exemplo, não pode, em hipótese alguma, receber salário
abaixo do piso profissional da categoria. Mas, isso não significa que o
engenheiro servidor público tem que ganhar o piso profissional, ou seja, o
salário mínimo profissional. Tem que ser daí para cima, numa escala evolutiva
por tempo de serviço ou por mérito.
Servidor público não
é serviçal, é servidor. Não tem que ficar chamando os usuários de sahib, como os indianos chamavam os
senhores ingleses. Tem que tratar o usuário com educação, mas em igualdade de
condições. Aliás, a educação se reflete em todos os atos do servidor: ao
despachar um processo na forma cortês de redigir; ao emitir uma notificação;
nas relações internas; no respeito aos ocupantes de cargos de chefia (e
vice-versa).
Alguns péssimos
costumes ficaram arraigados no serviço público. Certos despachos processuais
ainda utilizados simbolizam o ranço da arrogância, tipo, “Cumpra-se!”; “Indefira-se!”;
“Arquive-se!”, sem explicar os motivos de cumprir, de indeferir, de arquivar.
Uma das medidas para
profissionalizar o serviço público é a instituição de cargos de carreira, com
servidores aprovados em concurso público. O exercício de atividade pública
exige conhecimentos específicos e não é mais cabível agrupar pessoas que se
revelam totalmente inadequadas ao cargo. Esta tática de nomear por
apadrinhamento pessoas incompetentes e desclassificadas, com vistas a manter o
controle dos poderes políticos, tem que ser erradicada de uma vez por todas. A
famigerada técnica de nomear por indicação política é a responsável pelos
desmandos, pelo rigor patológico da burocracia (a insegurança do gestor gera
excessos burocráticos) e pela improbidade. O caso atual da Petrobrás é um ótimo
exemplo.
Serviço público
existe para satisfazer as necessidades sociais, tanto faz a função exercida
pelo servidor, pois este representa o interesse da coletividade. Atua como se
fosse um representante da população, cumprindo a legislação aprovada por seus
mandatários. Para tanto, o servidor tem que exercer suas funções com
independência, sob a qual responde por seus atos discricionários, assume
responsabilidades e sobre as suas consequências.
São tolos aqueles que
nomeiam por lealdade, laços de sangue, amizade ou identificação ideológica,
acreditando que assim se previnem contra os desmazelos e corrupções. Esquecem
que tanto o incompetente quanto o corrupto, ao assumir o poder somente bajulam
seus nomeantes para assegurar-se no cargo. O pior servidor (em qualquer área) é
aquele que sobrevive pela bajulação. E o pior gestor político é aquele que se
alimenta da bajulação recebida. Se um dia ele perder o posto, os bajuladores
nunca mais o procurarão.
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