Tempo atrás, fui convocado para participar de um congresso internacional sobre o formidável avanço tecnológico da informação e comunicação, tudo patrocinado pelo Ministério da Ciência e da Tecnologia. Lá fui eu, encontrando o magnífico Hotel em Copacabana lotado de sérias pessoas, todas preocupadas em demonstrar que o Brasil acompanha os países ricos na sofisticada rede informacional da nossa era. Fiquei emocionado ao ver tantos estrangeiros deixarem os seus países, as suas famílias, tudo pela causa da informação, e enfrentarem um prolongado fim de semana no Rio de Janeiro, com tudo pago pelo governo brasileiro. Em vista do calor, alguns já estavam caracterizados de cariocas, de bermudas floridas, chapéu de caçador e sandálias havaianas, o que achei bem razoável.
A reunião começou com o discurso de um russo, mas falando em inglês. Quem não entendesse o idioma podia usar aqueles equipamentos de ouvido, e escolher a tradução, mas, a maioria finge demonstrar que não precisa do tradutor. Não fica bem, afinal, a um congressista que não saiba, pelo menos, o inglês. Fui na onda e dispensei o equipamento, acreditando que o meu modesto conhecimento da língua anglo saxônica seria suficiente. Acontece que o inglês do sujeito tinha o sotaque de índio comanche discutindo com John Wayne. Olhei de lado e observei que todos prestavam muita atenção e fingiam rabiscarem anotações. Esticando mais os olhos, percebi que a mulher do meu lado escrevia a receita de uma banana caramelada. Tratei, então, de disfarçar também, abrindo a pasta ofertada pelo congresso e procurei selecionar os jogadores que deveriam compor a próxima seleção brasileira de futebol. Ronaldinho ou Kaká, uma dúvida cruel...
O segundo palestrante foi um mexicano gordo e bigodudo, felizmente falando em espanhol lento e pausado, enaltecendo as facilidades virtuais da comunicação mundial. De repente, ouve-se um chiado e o som emudece. Murmúrio na platéia, corre-corre da assessoria, entra um senhor de macacão azul, chinelo de dedo, carregando a maletinha de ferramentas. O mexicano aflito aguarda. Todos observam atentamente os gestos do senhor de macacão. Até aquele momento, ninguém tinha despertado tanto a atenção da platéia. Ele olha o equipamento, mexe daqui, mexe dali, levanta o corpo e fala alto: “O equipamento deu pau!”.
Um burburinho. O mexicano nada entende: Que sucede? Um executivo brasileiro prestativo tenta traduzir: “El equipamiento és pifado!”. Não sei se o mexicano entendeu. Uma situação deveras desagradável, principalmente levando em conta que o mexicano estava impedido de enaltecer a tecnologia da informação e comunicação diante da ausência do som. O senhor de macacão aproveita o momento para desabafar: “Eu avisei pro doutor! Fica comprando esses bagulhos chineses, é isso que acontece!”. Esta foi a informação mais importante do congresso, demonstrando através de uma realidade inequívoca que a tecnologia da informação e comunicação é matéria globalizante.
O coordenador resolve o problema com uma decisão festejada por todos: antecipa o horário do coffee brake. Nesses congressos, o melhor momento é a hora do coffee brake. Ando até planejando organizar o Congresso do Coffee Brake, dando aos participantes o direito de ouvir nos intervalos de quinze minutos uma palestra sobre assunto qualquer. Vai ser um sucesso!
Outra vantagem do coffee brake é a excelente oportunidade de cair fora. Os gringos de bermudas já carregavam cadeirinhas de praia. Devorei uma parcela daquelas guloseimas, fui saindo de fininho, andando de costas e dei no pé. Evidentemente, sem falar com ninguém, para não dar margem a qualquer distorção na técnica da informação e comunicação. Sem dúvida, um senhor congresso!