Roteiro: No Município de Arrependidos, o quadro fiscal é um só, ou seja, é constituído de “Fiscal Faz Tudo”, que fiscaliza tributos, posturas, obras, ocupação da área pública e, ainda, ajuda na vigilância sanitária e no meio ambiente. Diante de tamanha capacidade técnica e acadêmica, a categoria é agraciada com um salário substancial: 1,5 Salário Mínimo, mais R$50,00 de ajuda de custo. Cenário: Gabinete do Prefeito. Personagens: Prefeito e Secretário de Finanças.
Sobe o pano.
Prefeito – Tenho recebido muitas reclamações contra os Fiscais. A coisa está ficando intolerável!
Secretário – Alguma denúncia de corrupção?
Prefeito – Antes fosse! Antes fosse! Se fosse, eu demitiria o cara e resolveria o assunto!
Secretário – Então, a reclamação é sobre o quê?
Prefeito – Ora, chateação! Muita chateação! Eles ficam fiscalizando os nossos empresários, ficam xeretando tudo, querem saber de tudo, ora, ninguém agüenta uma aporrinhação dessas!
Secretário – Mas, Prefeito, eles estão exercendo a função deles.
Prefeito – A função deles é pegar camelô, fechar birosca, vigiar as nossas ruas, e não ir atrás dos nossos empresários, que emprega a nossa gente, dá trabalho aos que querem trabalhar, que já são poucos, você sabe, já são poucos!
Secretário – Mas eles precisam fiscalizar, pegar os sonegadores...
Prefeito – Sonegadores? Há – há – há, desculpe lhe dizer, mas você é ainda um ingênuo na política! Entenda isso, meu rapaz, todo mundo sonega! Todo mundo! E mesmo com a sonegação, são eles, os empresários, que ainda botam um dinheirinho nos cofres públicos.
Secretário – Mas o valor que eles pagam é ridículo, o senhor sabe.
Prefeito – Sei sim! E pra mim está muito bom! Dinheiro bom é esse que vem do Governo Federal, do Estadual, essas verbas que arrumo em Brasília. É dinheiro que não me chateia, não me incomoda, não me desgasta politicamente.
Secretário – O senhor sabe que somos obrigados a arrecadar os nossos tributos. O Tribunal de Contas...
Prefeito – Não me fale em Tribunal de Contas!! Essa garotada metida a besta, vem pra cá, examina tudo, pergunta tudo. Já reclamei com o Deputado!
Secretário – O Deputado não pode fazer nada.
Prefeito – Você é que pensa! O Deputado tem muita força.
Secretário – Está certo, Prefeito, embora a força dele tenha um limite.
Prefeito – Bem, isso é problema dele. O que interessa é que você tem que dar um chega pra lá na fiscalização. Manda parar com todas essas fiscalizações!
Secretário – E eles vão fazer o quê?
Prefeito – Ora, se pudesse mandar pra casa seria ótimo, mas faça o seguinte: bota todo mundo pra olhar camelô. Não quero nenhum camelô nas ruas!
Secretário – Mas, Prefeito, nós não temos tantos camelôs assim, talvez uma meia dúzia...
Prefeito – Já é muito! Meia dúzia é um absurdo! Tira todo mundo!
Secretário – É muito Fiscal pra meia dúzia de camelô.
Prefeito – Ora, inventa alguma coisa. Bota Fiscal pra fazer atendimento.
Secretário – E o pessoal do atendimento?
Prefeito – Ora, sei lá, manda gente pra Saúde, pro raio que o parta! Será que você quer que eu ainda administre a sua Secretaria? Tenha paciência...
Desce o pano.
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