quinta-feira, 21 de abril de 2011

Américo Vespúcio, o símbolo dos simuladores

Quem gosta de História não pode deixar de ler o livro “Américo – O homem que deu seu nome ao continente”, do historiador inglês de ascendência espanhola, Felipe Fernandez-Armesto, um dos mais conhecidos historiadores atuais sobre o período dos descobrimentos. Traduzido agora para o português, foi editado pela Companhia das Letras e está nas bancas ao preço de R$49,00.

Segundo o autor, Vespúcio foi um desses oportunistas que galgou a glória através da bajulação, da mentira e da simulação. Reconhecido como um grande cartógrafo, nunca elaborou um mapa na vida, mas tinha um enorme talento de copiar trabalhos dos outros e dizer que eram seus. Os seus conhecimentos náuticos eram nulos, nunca comandou uma embarcação e só fez duas viagens ao novo continente, ambas como simples passageiro. Mesmo assim, foi considerado um exímio navegador.

Comerciante falido em Florença, e devendo a todo mundo, soube da grande descoberta de Colombo e ouviu as conversas de imensas riquezas escondidas naquelas terras. Não hesitou em correr para Espanha e arranjar uma vaga de passageiro na expedição comandada por Alonso de Hojeda, a serviço da coroa de Castela, isso em 1499. Ao chegar ao novo continente, Hojeda dividiu a expedição, enviando para o sul duas embarcações, enquanto as demais seguiram na direção norte. Vespúcio era passageiro de um dos navios que foram para o sul e navegou até a foz do Amazonas. Aproveitou-se para encher os bolsos de pérolas. No ano seguinte, em 1500, escreveu uma carta ao chefe de Estado de Florença, vangloriando-se e dando a entender que ele fora o comandante da expedição. Disse na carta: “Parti com duas caravelas a 2 de maio de 1499, por ordem do rei de Espanha”. Um tremendo cara de pau!

De volta à Europa, soube que Portugal investia em grandes viagens e mudou-se rapidamente para Lisboa. Dizendo-se grande conhecedor do novo continente (onde esteve uma única vez), conseguiu vaga de passageiro na primeira expedição portuguesa, depois da vitoriosa expedição de Cabral, e percorreu a costa brasileira. Na região da atual cidade de Cabo Frio, convenceu os índios a montarem um depósito de pau-brasil e encheu os porões dos navios. Esta foi a sua última viagem. Ao retornar, escreveu cartas aos fidalgos, nas quais se proclamava perito em navegação, piloto notável, e tornou-se famoso. Já era comparado ao grande Ptolomeu. E do seu nome surgiu América.

Acho que ninguém deve estranhar essa fantástica história, porque estamos cercados de Vespúcios. Pessoas medíocres, sem qualquer resquício de talento, mas que conseguem atingir altos postos de comando e obter inúmeras vantagens, por meio do uso de uma esperteza imoral, sem nenhum escrúpulo em atacar pessoas com intrigas e falsidades. A mediocridade impera, mas demonstram grande habilidade no uso da maldade, e acreditam fervorosamente que a mentira avassala a verdade, ao ponto de deixar esta sepultada para sempre. E na maioria das vezes, estão certos.

Roberto Tauil

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