quinta-feira, 10 de março de 2011

Tiro no pé

O caso que aconteceu (ou vem acontecendo) na empresa francesa Renault pode transformar-se em “case study”, símbolo da precipitação ou de meter os pés pelas mãos, e que, vira e mexe, ocorre em Prefeituras, notadamente na área fiscal.
Foi o seguinte: todos os diretores graúdos da empresa receberam uma carta anônima pela qual dois diretores e um assistente eram acusados de receber propina em troca de fornecer informações sigilosas sobre o projeto do carro elétrico. A diretoria logo se reuniu e sem tomar qualquer precaução, ou, pelo menos, investigar inicialmente a origem da denúncia, levaram o caso ao conhecimento da Procuradoria Pública e afastaram os acusados. O assunto foi divulgado pela imprensa e a vida dos três denunciados foi arrasada.
Os três protestaram inocência e se disseram perplexos diante de acusação tão infame. Os seus advogados exigiram a apresentação de provas materiais. Não havia!
Às pressas, a empresa contratou um escritório de investigação de espionagem industrial, ao valor de U$348 mil, para investigar os três acusados. Nada foi descoberto! Tentaram descobrir onde os três esconderam o dinheiro da propina. Trabalho infrutífero! Varreram as contas bancárias: não acharam um tostão furado.
Partiram, então, para descobrir o autor da denúncia. Até exame de DNA fizeram na carta, mas o denunciante anônimo foi esperto e tomou todos os cuidados na elaboração da missiva, inclusive na selagem.
Agora, depois do leite derramado, a empresa se prepara para inocentar os supostos criminosos, certamente com um pedido de desculpas e dizer que tudo foi “um lamentável engano”. A ministra da Fazenda da França lavou as mãos ao dizer à imprensa que os executivos do alto escalão da Renault que arquem com as consequências. Os advogados dos denunciados estão esfregando as mãos e lambendo os beiços. Imaginem o dinheiro que vai rolar no processo de indenização por danos morais.
Denúncia contra Fiscal é comum de acontecer. O trabalho do Fiscal gera rancor, ninguém gosta de ser fiscalizado. Muito fácil inventar histórias, caluniar ou tentar difamar a pessoa do Fiscal. Além disso, temos aquela coisa da inveja, tanto externa como interna. A chefia tem que ser cautelosa, agir com prudência diante das denúncias recebidas. O melhor caminho é requerer o processo administrativo alvo da denúncia e analisá-lo. Se for o caso, mandar proceder nova fiscalização. Se sair atirando a esmo, vai dar um baita tiro no pé. Denúncia de corrupção só é válida com provas materiais e se houver acusação sem provas que o acusador apressado arque com as consequências, como disse a ministra francesa.
  
Roberto Tauil - março de 2011.
PS - O caso da Renault vem sendo noticiado no jornal Valor, última reportagem de 10 de março de 2011, com base na publicação do The Wall Street Journal, de Paris.

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