Faz tempo a comunidade não é assunto neste antro de intrigas e considerei dever moral retornar ao tema. Talvez alguém se lembre do Seu Broa e a ideia de explorar o óleo do “Pré-Sol”, com barquinhos recolhendo o óleo a boiar nas águas límpidas da nossa praia, óleo vazado dos tanques dos navios e plataformas que resolveram jogar âncoras aqui no litoral e transformar a nossa praia em base marítima de operações de limpezas navais.
Pois saibam que mesmo sem apoio do BNDES o negócio deu certo! Seu Broa e um grupo de meninada remam seus barcos todas as manhãs, antes do sol nascer (vem daí o ‘pré-sol’) e enchem dúzias e dúzias de garrafas pet com o precioso líquido... Tudo bem, misturado com água, mas a proporção de óleo é o que conta.
Numa dessas manhãs, dei uma escapada e fui fingir que fazia a caminhada na orla, quando encontrei o Seu Broa, sentado no banco de costume e olhando o mar, também como de costume. Sentei-me ao seu lado. E ele, sem me olhar, foi dizendo:
“Sabe, doutor, estou muito preocupado com este negócio. Confesso que não sabia como é complicado ser empresário”.
“Mas o senhor não está vendendo toda a produção?”, perguntei.
“Estou! Um posto de gasolina compra tudo, não me pergunte o destino que ele dá ao meu óleo. Mas, agora, o cliente está pedindo nota fiscal. O recibinho que eu passava não serve mais, a coisa está crescendo”. E ficou olhando o mar.
Uns cinco minutos depois, eu perguntei:
“O que o senhor pretende fazer?”
“O Seu Manoel da Padaria me deu o endereço de um contador e fui lá conversar com ele. Um sujeito estranho... Disse que eu devo ser gay para ter nota fiscal”.
“Ser gay?”, perguntei espantado.
“Pois é, ele disse que todos os microempreendedores são gay... Olha, doutor, eu respeito todo mundo e cada um que faça o que quiser do seu corpo, mas não tenho mais idade de boiolar por aí”.
Entendi, afinal, o que ele estava dizendo.
“Não, seu Broa, não é gay, é MEI! Ele falou que o senhor tem que se inscrever no MEI, Microempreendedor Individual”.
Finalmente, ele me olhou.
“Desculpe, doutor, mas eu entendi perfeitamente. Acho que é mais uma cota a favor de minorias, como o governo está fazendo... Cota para os pobres, cota para os negros, cota para os deficientes, e, agora, cota para gays. Minha patroa, que assiste novela, me disse que a Globo está apoiando”.
Tentei explicar.
“Não é não, Seu Broa! O senhor pode ficar tranqüilo que ninguém vai obrigá-lo a ser gay”.
Por me levar em conta, ele finalmente acreditou.
“Tudo bem, obrigado pelo esclarecimento, mas esta exigência era a menos complicada, porque ser gay não deve ser uma coisa tão chata assim... Eu não conheço nenhum que foi e depois desistiu. Em toda a minha vida nunca conheci um ex-gay, ou nome parecido. Mas deixa pra lá! Problema maior é que ele disse que um mundaréu de gente vai começar a se meter no meu negócio. Uma tal de Brama vai querer projeto de sus-ten-ta-bi-li-da-de e-co-ló-gi-ca, tive que escrever esse palavreado, e olha que eu não bebo Brahma, só cachaça. Vou ter que pagar um monte de letrinhas, ICM, INENÉ, CSLELÉ, CONFINS do Juda e muito mais que já esqueci, o alfabeto era completo, tinha até ipisilone. Ele disse que o governo vai ser o meu sócio nos ganhos. Ainda tenho que preencher um tal de RAIS que me parta, por causa da meninada. Estou quase desistindo”. E ficou olhando o mar.
Tentei animá-lo.
“Não é bem assim. O programa do MEI é bem fácil e o senhor não vai pagar tantas letrinhas assim”.
Ele não se convenceu.
“Sei não, o meu lucro vai sumir e tem outras coisas esquisitas...”
“Que coisas?”
Ele deu um muxoxo.
“O contador, aquele sujeito estranho, me disse que está tentando descobrir o meu CANAI para enfiar o seu CENEPEJOTA! Nunca mais eu volto lá, doutor... Quem tem CANAI tem medo, sei lá o tamanho desse CENEPEJOTA”.
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